Terra de História...
Murça com história e tradição
O concelho de Murça está situado no extremo oriental do distrito de Vila Real, no limite com o vizinho distrito de Bragança. É delimitado a norte por Valpaços, a sul por Alijó e a oeste por Vila Pouca de Aguiar.
Situado em pleno centro geográfico da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, é formado atualmente por sete freguesias: Candedo, Carva e Vilares, Fiolhoso, Jou, Murça, Noura e Palheiros e Valongo de Milhais.
Concelho misto de “terra fria” e “terra quente”, é atravessado pelo rio Tinhela e balizado em parte pelo rio Tua.
É apreciável a sua produção de azeite e de vinhos. Constituindo uma parte da Região Demarcada do Douro e de Trás-os-Montes, tem na vinicultura a sua economia essencial (embora muito associada ao azeite).
O nome da freguesia é objecto de diversas opiniões. Uma dessas opiniões diz que deriva da quantidade de ursos que existia no local. A outra opinião diz que onme original da freguesia e do concelho era Muça e não Murça – um nome muçulmano.
A história da área em que o concelho de Murça se fixou remonta ao Paleolítico (vestígios com cerca de 500.000 anos encontrados em Noura). Desde essa época, o seu território foi provavelmente povoado de forma contínua, pois muitos são os indícios de diferentes períodos de ocupação. Há registos arqueológicos do Mesolítico (também em Noura), do Neolítico (Candedo e Jou), e da Idade do Bronze (Jou, Murça, Fiolhoso). Da época castreja, existem antigos povoados fortificados, a maior parte deles da Idade do Ferro.
A partir do século II a. C., chegaram os romanos, que fundaram as célebres "villas" rurais, núcleos de alguns dos actuais povoados. Além de troços de estrada e pontes, deixaram variados testemunhos da sua presença.
No século XIII, em 1224, D. Sancho I vai conceder carta de povoação a Murça, com o objectivo de desenvolver uma terra que, até aí, estava quase abandonada. No reinado de D. Sancho II, são atribuídas cartas de foral a Carva, a Noura e a Murça. D. Dinis concede foral a Murça e D. Manuel renova-o com um foral-novo nos inícios do século XVI. O concelho só vai adquirir a actual configuração nos finais do século XIX, depois de receber Carva e Vilares em 1853 e acolher Jou em 1895.
São muitos os motivos de interesse numa visita ao concelho de Murça. Em termos de património natural, a beleza paisagística das serras da Garraia, de S. Domingos e do Crasto de Palheiros; as vistas do Morro de S. Domingos, do Miradouro das Curvas e do Alto do Barroco; o bucolismo do Tinhela e da Mata; as termas das Caldas de Santa Maria Madalena.
Em termos de património edificado, temos as igrejas, capelas, solares, pontes, cruzeiros e fontes que se espalham um pouco por todo o município. Não poderíamos deixar de destacar, aqui, a Igreja Matriz de Murça. Do século XVlll, contém alguns altares em talha dourada e um tríptico do século XVl, do pintor Pedro de França. Da imaginária sobressai um Cristo crucificado, de linhas vigorosas e de expressão dramática e simultaneamente resignada. Digna de registo é ainda uma imagem gótica figurando São Vicente. A Casa de Campo dos Condes de Murça é uma das que deve ser visitada. Como solares ou casas significativas, Murça ufana-se da dos Morgadinhos, dos Condes de Murça e daquela onde nasceu D. Diogo de Murça, que no século XVl foi reitor da Universidade de Coimbra, assim como a de D. Inácio de Morais Cardoso, que foi cardeal-patriarca de Lisboa.
Destaque ainda para o artesanato; as feiras (Murça, Fiolhoso e Jou), as festas e as romarias; a caça (coelho e perdiz); o desporto motorizado (Rampa da Porca de Murça, Rally Vila de Murça); e a gastronomia, onde sobressaem os derivados da matança do porco. Além disso, há o cabrito, o cozido, o bacalhau e a doçaria, em que pontificam as queijadas, o toucinho do céu, as cavacas e o pao-de-ló. Muito importante em Murça e no imaginário da sua população é a lenda da Porca de Murça. Diz a tradição que, no século VIII, esta povoação e o seu termo foram assolados por grande quantidade de ursos e javalis. Os senhores da vila e a população tentaram então acabar com as feras através de montarias. Mas uma delas, uma porca que alguns pensavam ser uma ursa, era muito feroz e todos tinham medo dela. Em 775, o senhor de Murça decidiu matar a porca e conseguiu-o através da inteligência que empregou. Em memória desta façanha, construiu-se o monumento da “Porca de Murça”.
Sant’Anna Dionísio descreveu no «Guia de Portugal» a forma de chegar a Murça: «No alto do Pópulo, quase de chofre, dá-se de face com um belo e imprevisto panorama. Abre-se diante de nós o profundo e amplo vale do rio Tinhela. É um grandioso quadro de majestosos relevos e rasgados despenhadeiros. A estrada, para vencer o enorme desvão que se lhe impõe, lança-se numa demorada e sinuosa série de lacetes, de cinco quilómetros (as chamadas «Curvas de Murça»), que, vistas de cima, dão a impressão de sinuosidades recreativas de uma serpentina. No fundo, transpõe-se o caudaloso afluente do rio Tinhela, por uma ponte, de pedra, de trinta e três metros de altura. A via romana, da qual resta ainda, a jusante, um bom pedaço, era bem mais expedita, vencendo a encosta em lanços íngremes, bem lajeados. A meia encosta, na margem esquerda do rio, encontra-se Murça, vila vetusta e alongada, em cuja se praça se conserva uma típica escultura zoomórfica, certamente relacionada com o remoto culto totémico – o culto dos berrões – que entre os primitivos povos destas alturas ibéricas parece ter sido arreigado.»