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História do Soldado Milhões é exemplo de vida
A companhia de teatro Filandorra recriou a Batalha de La Lys, no passado sábado, 24 de outubro, sendo o palco escolhido foi a terra-natal do “herói” português da I Guerra Mundial, a aldeia de Valongo de Milhais. O jornalista Francisco Galope apresentou o seu livro “O Herói Português da I Guerra Mundial”, lançado em 2014, uma iniciativa organizada pela Associação "Amigos de Murça".
Neto do soldado Milhões, o herói da Primeira Guerra Mundial, Eduardo Pinheiro retira da história do avô um exemplo de vida e nunca se cansa de contar o episódio em que o pequeno português enfrentou sozinho os alemães.
Eduardo Milhões Pinheiro tem 41 anos e não chegou a conhecer Aníbal Augusto Milhais, mas cresceu a ouvir os relatos do soldado raso que partiu de Murça para combater na Primeira Guerra Mundial e que ganhou fama quando se bateu sozinho contra os alemães para ajudar à retirada das forças aliadas.
O soldado Milhões foi homenageado no sábado em Murça, na sua terra Natal, a aldeia de Valongo de Milhais.
Nesse dia foi apresentado livro "O Herói Português -- da I Guerra Mundial", da autoria do jornalista Francisco Galope, e a companhia de teatro Filandorra recria a Batalha de La Lys.
Foi em abril de 1918, durante a Batalha de La Lys (Flandres -- Bélgica), e os seus atos de bravura lhe valeram a mais alta condecoração militar nacional, a Ordem de Torre e Espada.
"Tenho um orgulho imenso no meu avô e na figura que ele representa, sobretudo no seu exemplo", afirmou à agência Lusa o neto do militar que ficou conhecido como o soldado Milhões.
Eduardo Pinheiro conta que Aníbal Augusto Milhais, um jovem analfabeto e pobre, um franzino de pouco mais de metro e meio de altura, desobedeceu às ordens de retirada e ficou para trás, sozinho e abrigado numa trincheira, a disparar contra o inimigo.
"Ele corria entre os vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, que a posição estava a ser guardada por vários militares. Quase parece uma cena de um filme mas é a verdade", salientou.
À quarta ofensiva, os soldados alemães decidiram contornar aquele ponto e deixaram o português para trás das linhas inimigas, onde sobreviveu durante uns dias, com umas amêndoas doces no bolso, até encontrar um oficial escocês que o ajudou a encontrar o batalhão português.
Foi esse mesmo oficial que relatou o ato heroico do soldado transmontano. O epíteto "Milhões" nasceu com o elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: "Tu és Milhais, mas vales milhões".
"O meu avô não deixou que nenhum dos seus companheiros ficasse para trás e preferiu sacrificar-se, ou correr esse risco. Essa é uma das lições e exemplos que eu retiro para mim e para a minha vida, é que não deixamos os nossos para trás, cuidamos dos nossos", frisou o neto.
"Ele dizia que se tivesse que morrer não seria com um tiro nas costas. Ele ficou e não optou pela via fácil, optou pela difícil. Para a minha vida é isso que eu retiro, que não devemos seguir aquilo que é o mais fácil, mas aquilo que tem que ser feito e procuro ter isso em consideração todos os dias, mas ações e decisões que vou tomando", frisou.
Após a guerra e a condecoração, o soldado regressou à sua terra natal, a aldeia de Valongo, concelho de Murça, distrito de Vila Real. Tornou-se agricultor, casou e teve 10 filhos, sete dos quais chegaram à idade adulta, e ainda chegou a emigrar para o Brasil, de onde pouco tempo depois regressou por pressão da comunidade portuguesa, que considerava "que não era digno" um herói nacional ser emigrante.
A história do soldado foi resgatada pelo jornal Diário de Lisboa que, na década de 20, o transformou numa espécie de símbolo nacional que passou a ser usado pela propaganda dos governos da primeira República e pelo Estado Novo.
As medalhas conquistadas mereceram-lhe uma pensão de "alguns tostões". O soldado Milhões teve sempre uma vida modesta e era, segundo o neto Eduardo, um "homem simples, alegre, que gostava de ter a casa cheia e de contar histórias".
Era também um exímio caçador, tinha jeito para a enxertia e era chamado para matar os porcos.
Morreu aos 70 anos na aldeia que se passou a chamar Valongo de Milhais em sua homenagem.
"É sempre positivo e gratificante perceber que a memória do meu avô permanece viva e que continua a haver vontade de perpetuar o seu exemplo. Mas, para além do meu avô, é também uma forma de evocar todos os outros soldados que foram colocados num país estrangeiro para defender a pátria", salientou Eduardo Pinheiro.
As medalhas do soldado Milhões foram doadas ao Museu Militar do Porto e a sua casa à Câmara de Murça. O desejo de transformar este edifício numa casa museu tem sido consecutivamente adiado devido à falta de financiamento, mas o neto espera que ainda seja possível evitar a ruína da habitação.
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